quinta-feira, 18 de junho de 2020

Madeira sobre projeto em São Luís: ‘Meu consórcio é com o povo’




Em entrevista ao jornal O Estado do Maranhão, o juiz federal aposentado Carlos Madeira falou sobre a sua decisão em disputar o pleito; sobre a proposta de adiamento das eleições municipais em decorrência da pandemia do Covid-19; sobre a participação de ex-magistrados na política e sobre o atual cenário político.

O Brasil enfrenta a pandemia da Covid-19 e durante esse tempo a disputa eleitoral acabou ficando em segundo plano. Tanto, que não há definição ainda a respeito da data do pleito. Importante perguntar, o senhor mantém a sua pré-candidatura?

Sim, sou pré-candidato a prefeito de São Luís e estou confiante de que vamos vencer as eleições. E o mais importante é que não estou só. Porque não é um projeto pessoal, um capricho. Sou pré-candidato porque a cada dia recebo novas manifestações de apoio, de pessoas de diferentes segmentos da sociedade que se juntam ao nosso projeto, de lideranças comunitárias e políticas, artistas etc. E isso só tem me encorajado a seguir adiante com esse projeto que é, sobretudo, coletivo. Ou seja, um projeto com dimensão suprapartidária, supra-ideológica, que possa possibilitar um levante cívico em favor de um novo jeito de fazer política. Mantive um certo distanciamento do debate pré-eleitoral, nos últimos três meses, em respeito e solidariedade às famílias de vítimas dessa triste pandemia que tomou conta do mundo. Isso é da minha natureza.


E em relação a possibilidade de adiamento do pleito. A Justiça Eleitoral e o Congresso sugerem duas datas: uma em novembro e outra em dezembro. Para você, qual seria a saída mais viável? Adiamento ou manutenção do pleito em outubro?


Fui o primeiro pré-candidato no Brasil a defender o adiamento das eleições, ainda no mês de março, quando os técnicos do Ministério da Saúde apontavam para a possibilidade de a curva de contaminação da Covid-19 ainda se encontrar alta no mês de agosto. Antevia os graves danos emocionais sofridos pela sociedade, com milhares de família em estado de luto e, assim, sem condições de participar com entusiasmo cívico do processo eleitoral. Defendo que a decisão da Justiça Eleitoral leve em consideração os cuidados sanitários, recomendados pela OMS, e os protocolos mais eficientes para a preservação da saúde da população. Mais importante que a eleição é a vida das pessoas.


E qual a sua opinião em relação à possibilidade de prorrogação de mandato dos atuais prefeitos e vereadores?


Não há como sequer cogitar essa possibilidade. A prorrogação violaria os princípios fundamentais da República, contidos nos artigos 1º a 4º da Constituição Federal. Qualquer Proposta de Emenda Constitucional (PEC) no sentido da prorrogação de mandatos nascerá sob o signo da inconstitucionalidade e será naturalmente abatida pelo STF. O que defendo, por não implicar em prorrogação de mandato, é a mudança das eleições do mês de outubro para a segunda quinzena de novembro, no primeiro turno; e primeira quinzena de dezembro, no segundo turno.


Como consolidar uma campanha diante da forte estrutura de adversários que atuam por décadas na política?


O nosso projeto difere em vários pontos das pré-candidaturas já apresentadas. Respeito todos os nomes previamente anunciados, tendo com alguns boas relações de amizade. Nosso projeto, porém, está alicerçado em valores que são fundamentais para os anseios da população e que nada têm a ver com tamanho ou estrutura de campanha ou com longevidade na política. Estamos nos consolidando, dia após dia, com o apoio do povo, das pessoas mais simples que se identificam com a minha biografia e com os nossos planos para administrar São Luís. Minha pré-candidatura não requer pirotecnia, não é um projeto de marketing; não preciso de media training para aprender a dialogar com o povo. Nasci na periferia, conheço a linguagem e a cultura de nossa gente. Sou um ludovicense típico.


Na sua avaliação, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior conseguiu cumprir o que prometeu em 2012, quando foi eleito para um primeiro mandato?


Acho que o prefeito Edivaldo Holanda Júnior conseguiu avançar em alguns pontos e deixará, ao final do seu mandato, outras frentes de trabalho que necessitarão ser concluídas pelo seu sucessor. Poderia ter avançado mais com obras estruturantes. Poderia ter avançado mais com obras estruturantes em seus oito anos de mandato, bem como poderia ter se dedicado mais ao turismo e à cultura, dois setores que precisam de uma atenção muito especial pelo fato de São Luís possuir uma vocação histórico-cultural. Minha política será sempre aquela de não virar as costas para gestões anteriores, respeitando, assim, o princípio da continuidade administrativa. Se algo precisa ser continuado, assim o faremos, com responsabilidade e transparência.


Setores da imprensa já o citaram como parte do “consórcio” de pré-candidatos do governador Flávio Dino em São Luís. Há alguma verdade nisso?


Não me vejo fazendo parte de qualquer consórcio. Minha pré-candidatura, como já disse, atende a um chamado das pessoas simples, de comunidades como o Bairro de Fátima, onde estão as minhas origens. Meu consórcio é com o povo da Cidade Operária, da Cidade Olímpica, do São Raimundo, de toda a área Itaqui Bacanga, da Divineia, do Coroadinho, de toda a zona rural de São Luís. É nesse consórcio que eu acredito. Sou amigo do governador Flávio Dino, todos sabem, pois passamos no mesmo concurso para juiz federal. Ficaria imensamente orgulhoso, e assumiria publicamente com entusiasmo, um eventual apoio do governador Flávio Dino.


Por qual motivo o eleitor de São Luís pode depositar a esperança por dias melhores em Carlos Madeira?


Pela força da minha biografia, da minha história de vida. Sou um vencedor. Nasci em uma comunidade da nossa periferia, filho de um alfaiate e de uma empregada doméstica. Fui lavador de carros, vendi laranjas no Estádio Nhozinho Santos, fui ajudante de pedreiro e trabalhei na roça. Não trago comigo dinheiro para esbanjar em campanha. Não trago promessas mirabolantes que jamais seriam cumpridas. Não chego até aqui com um projeto político viciado, arcaico ou comprometido. Trago comigo a minha história de vida, os valores que me foram ensinados em casa pela família, ideias e planos para melhorar a qualidade de vida e elevar a autoestima do povo de São Luís. Trago comigo aquilo tudo que aprendi ao longo da caminhada, coisas que quero repartir com os meus conterrâneos como prefeito da capital maranhense. Sou um idealista, alguém que, por um ideal, coloca o seu nome em uma fase madura da sua vida, quando não precisa de mais nada, a não ser de saúde, para contribuir com a cidade, administrando-a em um momento tão dramático na história da humanidade.


O candidato que aparece na primeira colocação em intenções de votos, segundo pesquisas registradas no Tribunal Superior Eleitoral e já publicadas, é o deputado federal Eduardo Braide. Você vai endurecer o embate contra ele?


Qualquer pesquisa hoje é apenas um cenário de agora. Nunca será uma certeza para daqui a quatro ou cinco meses. Eu confio no meu trabalho, nas manifestações de apoio que tenho recebido, na capacidade de crescimento do nosso projeto. Isso, para nós, é mais importante que qualquer precipitação de números. O povo ainda não se decidiu, isso é o fato. Na história recente das eleições de São Luís sabemos de situações em que candidatos tidos por favoritos sequer foram para o segundo turno. O foco é e será sempre o nosso projeto, um projeto coletivo pela cidade, e não um projeto pessoal para se perpetuar na política.


Nos últimos anos houve uma migração mais intensa de ex-juízes para a política. No Maranhão, o governador é um ex-juiz. No Rio de Janeiro, também. Sérgio Moro deixou a carreira para atuar como ministro de Bolsonaro. Você propõe uma candidatura própria depois de aposentado. Essa movimentação, do seu ponto de vista, numa leitura mais profunda, traz algum incômodo para a atual conjuntura do Judiciário? Há uma resistência dentro do Judiciário à essa migração?


Não vejo qualquer resistência. Os exemplos citados são casos pontuais. Mas não vejo isso como uma tendência. O Poder Judiciário tem muitos quadros qualificados, pessoas capazes. E algumas delas encontram no vácuo da política brasileira atual a possibilidade de ajudar a escrever uma nova história.


Qual a sua avaliação a respeito do atual cenário político do Brasil?


O Brasil já enfrentava problemas econômicos e sociais graves muito antes da pandemia. A crise econômica ajudou a
maltratar o sistema de saúde e a educação, principalmente. Com a Covid-19, a situação tem se agravado e levado muitos municípios à beira do caos. Fora isso, o Brasil enfrenta uma crise política séria, que precisa ser encarada com
responsabilidade e, principalmente, com maturidade. O país precisa avançar. Mas, isso só será possível com muito diálogo.


E qual a sua avaliação a respeito do presidente da República?


Estamos no meio de uma pandemia que seguramente vai mudar os rumos da história, com impactos nas esferas federal, estadual e municipal. O presidente Jair Bolsonaro enfrenta dificuldades e penso que o momento, para superar essa grave crise sanitária, é de união de todos. Não podemos deixar que questões ideológicas ajudem a agravar ainda mais a situação. São Luís, uma cidade com mais de um milhão de habitantes, depende diretamente de parcerias com o governo federal, independentemente de quem esteja à frente do poder.

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