sábado, 19 de setembro de 2015
Governo já cortou quase 800 mil famílias do Bolsa-Família
Primeiro, chega a "cartinha". Com
carimbo do Ministério do Desenvolvimento Social, ela pede ao beneficiário do
Bolsa Família que se apresente na prefeitura da cidade para agendar a visita de
um assistente social à sua casa. A partir desse momento, o dinheiro do programa
já para de entrar na conta da família. Semanas depois, o assistente social toca
a campainha. Prancheta, caneta e almofadinha de carimbo na mão (para os casos
em que o beneficiado não sabe escrever), ele faz perguntas sobre cada morador
da casa: quem estuda, quem trabalha, quanto ganha. Caso note a presença de uma
moto, de uma TV de LED ou de qualquer elemento que destoe do cenário de pobreza
obrigatório, indaga quando a família adquiriu o bem e com que recursos.
Encerrada a entrevista, pede ao beneficiário que assine o formulário preenchido
e encaminha o papel à prefeitura. Feito isso, o resultado é quase sempre o
mesmo: adeus, Bolsa Família. Poucos dos que recebem a visita do assistente
social conseguem manter o benefício.
Sem anúncio nem alarde,
o governo federal começou a passar a tesoura nos programas sociais. O Bolsa
Família, carro-chefe da administração petista, sofreu neste ano o mais profundo
corte desde que foi criado, há onze anos. Apenas no primeiro semestre de 2015,
782.313 famílias deixaram de receber o benefício.
Para diminuir os
custos do programa sem admitir sua redução, o governo passou a promover um
pente-fino silencioso entre os cadastrados. Desde maio, vem cruzando seus dados
com informações do INSS e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), por
exemplo. O objetivo é identificar quem possui bens incompatíveis com o teto de
renda permitido aos participantes do programa (até 154 reais por membro da
família, o que torna difícil a compra de um carro, por exemplo) ou está acumulando
benefícios indevidamente. Os que já recebem a aposentadoria rural de um salário
mínimo não podem ganhar Bolsa Família.
Também estão impedidos de integrar o
programa pescadores que recebem o seguro-defeso - pago durante o período de
procriação dos peixes. Esse veto surgiu de uma portaria criada pelo governo
federal em março deste ano. Desde então, em cidades do Nordeste que vivem da
pesca, como Saubara, na Bahia, a queda no número de beneficiários do Bolsa
Família foi de quase 70%.
Da VEJA
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